A SUA PONTUALIDADE DIZ MUITO SOBRE VOCÊ. SUA IMPONTUALIDADE, MAIS AINDA.

Tenho um amigo, ele não é brasileiro, o Mark. Ele tá radicado no Brasil faz tempo, e o Mark é conhecidíssimo pelo seu senso de humor refinado, visão estratégica – e predileção por boas cervejas. 

Quase todas as vezes que marquei algo com ele, fosse um almoço, café ou reuniões de trabalho, a pontualidade do brasileiro (ou a falta de) esteve em pauta.

É evidente que, nesses anos de convívio, eu devo ter me atrasado em umas duas ou três ocasiões,… afinal de contas eu vivia numa grande cidade, … e aí a gente tem a cidade inteira jogando contra quando se quer chegar na hora a um compromisso.

Nas ocasiões em que anunciei uma eventual demora, o Mark não perdia a oportunidade: “Vai se atrasar, né? Como bom brasileiro…”, ele me cutucava, sempre ‘rindo’.

Sou obrigado a concordar com o Mark: a pontualidade por aqui, definitivamente, não é levada a sério. Ainda duvida?

A aula na faculdade começa às 8h? Não corra, a tolerância é de 10 minutos! O escritório abre às 9h, mas ninguém decretará falência se o colaborador chegar às 9h30 (umas duas vezes por semana). O convite da festa infantil marca 15h? Apareça umas 16h que talvez o aniversariante já esteja pronto. O jantar na casa de familiares ou de amigos é às 8 da noite? Ninguém te deixará morrer de fome se você se atrasar 20 minutinhos. Em casamentos já tem o “tradicional” atraso da noiva, e agora mais uma inovação: padrinhos agora chegam após a noiva.

Compromissos corporativos não escapam à regra: reuniões, cafés-da-manhã, fechamentos, entre outros, estão sempre, ou quase, sujeitos a  delay (nome ‘chique’ para atraso).

Isso sem falar dos atrasos dos ônibus, aviões, serviços médicos, entrega de mercadorias, de obras…

A impontualidade no Brasil é cultural. Está impregnada em todas as áreas, em todos os níveis.

Pensando alto aqui, eu me questiono até onde essa falta de compromisso com os compromissos nos leva e nos levará? 

A pontualidade está sempre entre as características mais marcantes das pessoas bem-sucedidas.

Convém lembrar que pontualidade não é favor. Controlar o próprio tempo é uma responsabilidade, entre tantas, que permeiam nosso dia. Com a diferença que esta, a pontualidade, quase sempre envolve terceiros. Ser pontual, sendo assim, demonstra respeito para com o outro.

Numa rotina caótica como a nossa, com dezenas de microcompromissos diários e centenas de mensagens e e-mails para ler na semana, quem controla seus horários com rigor e consegue estar na hora marcada em locais previamente estabelecidos agrega valor a sua imagem, lustra e eleva o seu nome, o seu negócio, a sua marca.

A impontualidade gera desconforto, mancha reputações e, no longo prazo, 

pode estragar uma carreira.

O atraso compulsivo como regra, por sua vez, demonstra exatamente o contrário: a imagem de uma pessoa muitas vezes atrapalhada, que tem dificuldades em cumprir o que promete, refém até dos pequenos obstáculos. No campo profissional, quem se mostra incapaz de gerenciar o próprio tempo, em certos casos, perde até a oportunidade de gerir equipes e projetos maiores.

Chega a ser notável a criatividade daqueles que arrumam tantas desculpas por não comunicar atrasos num mundo interconectado por WhatsApp, Facebook, Instagram, … e o velho telefone.

Criar um networking consistente, que impulsiona carreiras e negócios, passa primeiro por confiança e credibilidade. E estas não se compram. Se conquistam com comprometimento, excelência e respeito.

(*) Marc Tawil – jornalista, radialista e escritor. Pertenceu às redações do jornal Resenha Judaica, Rádio Jovem Pan AM, Jornal da Tarde (Grupo Estado) e Rádio BandNews FM. Publicou os livros ‘Trânsito Assassino’ e ‘Haja Saco, o Livro’. Tem MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Dirige a Tawil Comunicação.

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